segunda-feira, 5 de outubro de 2015

[ O que é ser humano? ] - por Edson Pereira & Luiz Andrade


O que é ser humano?

Luiz Antonio Botelho Andrade, Edson Pereira da Silva, Eduardo Passos

Resumo


Este artigo tenta mostrar que o humano do ser humano é mais o resultado de um devir do que o apogeude um acabamento biológico capturado e engessado por uma concepção tipológica de espécie. A partir do processo evolutivo e de algumas etapas da evolução humana, ressalta-se a importância da sociabilidade para o surgimento da linguagem articulada e desta para a explosão da inventividade humana, o surgimento da cultura e a emergência da autoconsciência.

© Ciências & Cognição 2007; Vol.12: 178-191.

Palavras-chave


australopithecus; autoconsciência; cultura; evolução; linguagem; ser humano

Texto completo:

PDF

http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/636/418



4.2. O amor como emoção fundamental para a sociabilidade

Para discutir a assertiva explicitada acima, é importante entender que as emoções, diferentemente do que a nossa tradição cultural costuma associar com sentimentos, são disposições corporais (ou estados do corpo) que nos abrem ou nos fecham à possibilidade de realizar certas condutas (Bloch, 2002; Maturana e Bloch, 2003). Assim, por exemplo, não se espera uma conduta gentil no âmbito emocional do ódio. Destarte, quando o amor é apontado como emoção fundamental para a construção da sociabilidade, não se está falando de sentimento, mas apontando a disposição corporal que permitiu, ao primata bípede, a aceitação do outro, de forma mais intensa e perene, na convivência. E porque o amor seria assim tão importante para a sociabilidade e para a humanização? Fundamentalmente, porque o amor permitiu o prazer na espontaneidade dos encontros e dos reencontros e, assim, a convivência ininterrupta entre humanos (Maturana, 1997). Seguindo essa linha de raciocínio que considera o amor como emoção fundamental para a convivência (Maturana, 1997), retornaremos ao ponto de discussão sobre o nascimento precoce do bebê e a expansão da neotênia. Se considerarmos que durante o processo evolutivo da linhagem humana houve um marcante estreitamento da pélvis e, por conseguinte, do canal vaginal, podemos inferir que o nascimento precoce significou uma vantagem adaptativa em face de uma alta taxa de mortalidade durante o nascimento. Se assim o foi, tornou-se fundamental uma maior atenção dos pais para com a prole excessivamente frágil. Se aceitarmos que a expansão da neotênia e tudo que ela implicava (e ainda implica) desencadearam mudanças emocionais mais perenes, de aceitação sem maiores exigências, e que essas mudanças foram conservadas transgeracionalmente, isto explicaria o aumento da sociabilidade entre humanos e, de acordo com o que estamos defendendo aqui, o ambiente adequado ao surgimento da linguagem. O correspondente dessa emoção fundamental de aceitação do outro, enquanto legítimo outro, na convivência, é denominado, na nossa cultura, de amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário