Segundo Maturana (2001), quando “sentimos” que nosso trem está partindo, na verdade estamos parados e o trem no trilho ao lado é que está em movimento. “Essa é a deliciosa ilusão de que partimos quando ainda não partimos.” (MATURANA, 2001, p. 25). Na reflexão se reconhece que explicar o erro e a ilusão exige uma referência em um determinado ambiente.
Para Maturana (2001), as explicações do conhecer implicam o conhecedor, que é o ser humano. Ele alerta que explicar é uma operação distinta da experiência que se quer explicar, ou seja, uma coisa é a experiência e outra é a explicação da experiência. O fato é que, na experiência, não vemos o que vemos. O explicar é sempre uma reformulação da experiência que se explica, mas nem toda reformulação da experiência é uma explicação. Uma explicação é uma reformulação da experiência aceita por um observador. A explicação tem a ver com aquele que aceita a explicação como reformulação da experiência.
De acordo com Maturana (2001) há dois modos fundamentais de aceitar reformulações da experiência, que ele chama de caminhos da objetividade. A objetividade entre parênteses e a objetividade sem parênteses. No caminho explicativo da objetividade sem parênteses se assume explícita ou implicitamente que é possível distinguir entre ilusão e percepção, porque se admite referência a algo, independente do observador. Os modos de vida do ser humano, bem como as ações e emoções podem ser entendidas a partir da objetividade sem parênteses ou da objetividade entre parênteses. As observações realizadas sob a lógica da objetividade sem parênteses exigem um observar das coisas e dos fenômenos como se apresentam. No observar, tendo como referência o contexto da objetividade sem parênteses, “[...] meu escutar no explicar é um escutar fazendo referência a entes que existem independente de mim – matéria, energia, consciência, Deus.” (MATURANA, 2001, p. 34). No caminho da objetividade sem parênteses o outro, a realidade, os fenômenos são concebidos como estranhos e existentes em domínios de realidades diferentes do observador.
Segundo Maturana (2001), os processos cognitivos e as experiências do explicar se encontram correlacionados aos fenômenos do vivo, em correlação com o mundo em que vive. As explicações, observações e aceitações do explicar ocorrem como legítimas na corporeidade e não exclusivamente na razão. É na dimensão biológica que ocorre o explicar e o observar. No caminho explicativo da objetividade sem parênteses a pergunta pela origem biológica da cognição não aparece. Nesse caminho explicativo, toda verdade objetiva é universal e válida para qualquer observador, porque independe do que ele faz. São as realidades, os dados, as medições, a objetividade que validam o dizer.
Por outro lado, para Maturana (2001), a objetividade entre parênteses constitui o caminho explicativo que não se prende a uma verdade absoluta, ou a um acesso privilegiado. Nele se aceitam inúmeras verdades e diversas realidades conforme os diferentes domínios que envolvem o explicar e o observador. Nesse sentido, o ser humano, em sua dimensão biológica, não pode distinguir entre ilusão e percepção. No caminho da objetividade entre parênteses, o observador encontra verdades diferentes, ou seja, o mundo e a realidade não falam por si sós. O ser humano não pode ser entendido como estando fora do universo, somos nós, os seres humanos que falamos a respeito do mundo natural. Não se trata de negar que vivemos em um mundo de objetos, mas de reconhecer que tal mundo vai se constituindo na interação do viver do observador nas linguagens e nas culturas.
Para Maturana (2001, p. 38):
[...] a realidade é sempre um argumento explicativo. Disso podemos nos dar conta agora. Na objetividade entre parênteses há tantas realidades quantos domínios explicativos, todas legitimas. Elas não são formas diferentes da mesma realidade, não são visões distintas da mesma realidade. Não! Há tantas realidades – todas diferentes, mas igualmente legítimas – quanto domínios de coerência operacional explicativa, quantos modos de reformular a experiência, quantos domínios cognitivos pudermos trazer à mão.
Para Maturana (2001), no caminho da objetividade sem parênteses “toda afirmação cognitiva é uma petição de obediência.” (MATURANA, 2001, p. 36). No caminho explicativo de objetividade sem parênteses, o explicador não é responsável pela validade do que diz por que a realidade é independente dele. A negação do outro é responsabilidade desse outro, já que “O outro se nega a si mesmo.” (MATURANA, 2001, p. 38). Porém, no caminho explicativo da objetividade entre parênteses, o outro pode estar em um domínio de realidade diferente daquele do explicador, igualmente válido, ainda que não lhe agrade. O outro pode, então, ser negado não porque esteja equivocado, mas porque está em um domínio de realidade que não agrada ao primeiro.
Maturana (2001) considera que as relações com o outro implicam a aceitação do outro como legítimo na convivência, em que as relações fundadas na negação, na obediência, no preconceito, não são consideradas relação social. As formas de proceder negam a condição biológica de seres dependentes do amar e, assim, negam o outro como legítimo na relação social.
Quando ocorre a negação do outro, como legítimo na relação social, estamos em relação de competição. No entanto, a formação humana se constrói em uma história de convivência, de forma que a maneira como vivemos caracteriza o modo como nos formamos ao longo de nosso existir.
Assim, a aceitação do outro como legítimo na relação constitui uma garantia de que o outro irá aceitar a si mesmo, se respeitar, aceitar e respeitar o outro.
Fonte:
PRÁTICAS EDUCATIVAS QUE PERMEIAM A FORMAÇÃO HUMANA - pag 23
http://www.unoesc.edu.br/images/uploads/mestrado/Rosane_Rosalen.pdf
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