terça-feira, 30 de junho de 2015

Criatividade, Intuição e Racionalidade na Criação Científica


A ciência criativa

Físico-filósofo francês aborda discussão sobre o papel da criatividade e da intuição, orientadas pela racionalidade, na produção científica. Para ele, entender o processo da descoberta pode ser o maior desafio da filosofia da ciência.
Por: Marcelo Garcia, Ciência Hoje On-line
Publicado em 11/12/2013 | Atualizado em 11/12/2013

A ciência criativa
Como se dá a descoberta científica? Para o filósofo Michel Paty, invenção e intuição, guiadas pela racionalidade, fazem parte desse processo. (Montagem: Marcelo Garcia; originais: Flickr/ El coleccionista de instantes/ woodleywonderworks – CC BY 2.0)
Como surge a descoberta científica? Qual a sua origem? E qual o papel da criatividade nesse processo, no próprio avanço da ciência? Tais indagações, que inquietam e instigam a filosofia da ciência, certamente não têm respostas fáceis ou definitivas, mas podem ajudar a expandir nosso entendimento sobre o próprio fazer científico e sobre a trajetória da ciência nos últimos séculos. Para o físico, filósofo e historiador da ciência francês Michel Paty, diretor de pesquisa emérito do Centro Nacional para a Pesquisa Científica (CNRS, do francês), há na ciência lugar para a invenção e a intuição, orientadas pela racionalidade.
Em palestra no Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o francês abordou, em um português simpático e cheio de sotaque, as mudanças no entendimento filosófico sobre a ciência nos últimos 200 anos. Ele recordou as inovações da ciência que ainda no século 19 afrouxaram o laço entre matemática e natureza, mostrando a distância entre experiência e abstração teórica.
Naquela época, criações como a geometria não euclidiana, que não corresponde à ‘evidência’, e teorias físicas matematizadas e abstratas em eletricidade e magnetismo teriam tornado mais claro o papel dainvenção na construção da ciência, segundo Paty. “Apesar disso, na segunda metade do século 20, a concepção da ciência continuava a se basear, de maneira dominante, nas ideias herdadas do empirismo lógico, e a filosofia não estudava, em geral, o processo de descoberta, que ainda parecia dominado pela subjetividade e alheio à racionalidade”, afirmou.
Paty: A criatividade é parte fundamental do processo de elaboração dos conhecimentos científicos e deve ser levada em conta tanto pelafilosofia quanto pela história daciência
Apesar dessa predominância, o francês destacou que a aproximação entre criatividade e processo científico foi estudada por grandes cientistas e filósofos do século 20 – em especial dois deles, Henri Poincaré e Albert Einstein, cujos trabalhos estudou ao longo dacarreira. “Ambos concebiam a descoberta de novidades relacionadas ao conhecimento objetivo como fruto da capacidade de invenção da mente, baseada numa intuição racional que escapa às formas usuais do raciocínio, como a dedução lógica”, disse. “Dessa forma, mesmo que nem sempre seja possível observar as linhas de raciocínio, chega-se a um resultado racional”, analisou.
Nesse contexto, a invenção teria seu lugar assegurado na ciência. Fundamental, a criatividade seria, sim, pessoal (relacionada ao pensamento de sujeitos individuais), mas orientada pela racionalidade – que, por sua vez, não se identifica com a pura e simples lógica. Segundo Paty, essa criatividade seria parte fundamental do processo de elaboração dos conhecimentos científicos e deve ser levada em conta tanto pela filosofia quanto pela história da ciência.
Confira uma entrevista concedida à CH On-line pelo físico e filósofo francês:

Michel PatyCH On-line: O senhor é físico e filósofo, duas áreas que buscam compreender o mundo. Há uma relação natural entre elas?
Paty:
 Esses dois campos sempre foram próximos. Desde a Antiguidade, muitos físicos, muitos cientistas também eram filósofos, se debruçavam sobre as questões do mundo pelas duas vias. Foi só a partir do século 18 que essa separação começou a aparecer de maneira nítida, aliás, proposital, para assegurar a autonomia da ciência e da filosofia. Mas ela não é total. Se tomarmos o exemplo da cosmologia contemporânea, é impossível negar as questões filosóficas que a área suscita. A constituição da matéria, a presença da vida no universo, o surgimento de uma inteligência como a nossa nesse universo tão grande, a dúvidasobre estarmos sozinhos nele... São questões naturais, que se originam da nossa própria capacidade de indagação, tão própria daciência.
Houve uma época em que me dediquei totalmente à física, especialmente ao estudo dos neutrinos, que hoje são famosos, mas naqueles tempos eram novidade. E é lógico que eu me colocava questões de natureza filosófica, que o conhecimento objetivo não me permitia responder. Essa aproximação mais clara entre filosofia e ciência acontece intensamente nas áreas de fronteira, mas tais questionamentos podem surgir em qualquer campo de investigação – e mesmo da atividade humana em geral.

E como se dá, no seu entendimento, a conciliação da criatividade e da intuição com a ciência? Ela é realmente possível?

Sem dúvida é possível e necessário conciliar criação científica, racionalidade e objetividade. Um conceito científico considerado numa teoria não é isolado, mas solidário a outros conceitos, forma com eles um conjunto cujas relações são mais ricas do que puramente lógicas. A mudança científica se dá pela transformação do conjunto dos conceitos que fazem parte desse sistema.
O conhecimento avança graças a ampliações daprópria racionalidade, muito mais do que pela pura lógica
A história da ciência deixa ver que tais movimentos não são casuais e têm consistência interna, têm uma razão – justificada posteriormente – ligada à exigência de objetividade. São movidos pela racionalidade e, ao mesmo tempo, têm um lado importante de subjetividade. Cadaagente humano envolvido tem reações únicas na formulação e resolução dos problemas, o que resulta numa diversidade de 'estilos científicos'.
O conhecimento, então, avança graças a ampliações da própria racionalidade, muito mais do que pela pura lógica, pois elas permitem possibilidades inéditas de relacionar os elementos conceituais considerados. É como se mudássemos as regras do jogo: passamos a enxergar de forma racional o que antes era impensável, hipotético ou pertencia de forma vaga ao campo de ideologias. As mudanças no entendimento do mundo e na própria ciência despertam a intuição racional, que pode ser concebida como uma visão sintética intelectual dos cientistas daquela época para outras possibilidades, que levam a novas descobertas. 

Essa valorização da criatividade significa um reforço da figura do gênio, excêntrico, especial, inigualável, tão presente na opinião comum? Na verdade, não. Esse estereótipo do gênio é fruto de uma visão superficial da ciência. Claro, nem todos, mesmo os mais famosos e bem-sucedidos cientistas, eram criativos como Einstein e Poincaré. As descobertas estão ligadas também a outros fatores, como o pioneirismo num campo ou a momentos sociais bem aproveitados pelo pesquisador. Precisamos tomar cuidado para não cair em certo ‘relativismo’ e ‘reducionismo’ sociológico a respeito do pensamento científico, mas também é inegável a importância de fatores culturais e sociais de cada época. A ciência do século 21 não teria o aspecto que tem não fosse a sua organização social específica. A pesquisa está inserida na história e na história social, não faz sentido separar homem e sociedade.
Henri Poincaré e Albert Einstein
Em seu tempo, Henri Poincaré e Albert Einstein não só disputaram a paternidadeda Teoria da Relatividade, como também se dedicaram a pensar sobre o papelda intuição e da criatividade na ciência e no processo de descoberta. (fotos: Wikimedia Commons)

Em seu trabalho, o senhor já explorou muito as ideias de Einstein e Poincaré a respeito da criatividade, do estilo científico e do papel da invenção na ciência. Fazendo um paralelo com os dias atuais, qual o papel da criatividade e da invenção na ciência contemporânea? 
A grande dificuldade para responder a essa pergunta está na forma que a pesquisa científica tomou a partir da segunda metade do século 20. No tipo de ciência que temos hoje em domínios importantes, a big science, o trabalho é muito coletivo e as experiências são de alta tecnologia, tanto na física, na química e na astrofísica quanto na biologia e na neurociência. Há uma enorme mobilização de pesquisadores, instituições, equipamentos e recursos. Parece ser mais difícil perceber aqui uma originalidade de contribuição dos pesquisadores tomados individualmente.
Porém, se olharmos os conhecimentos produzidos por esse tipo de pesquisa, eles não deixam de ter a mesma natureza de quando o trabalho científico era mais individual: são exprimidos como formas simbólicas organizadas racionalmente, como conceitos e teorias, que são inteligíveis não para um coletivo, mas para sujeitos individuais. Ou seja, somos levados a pensar que a produção de ideias também continua a ser individual. Não é o meio coletivo e sua tecnologia que as gera, mas o trabalho mental individual dos participantes. E isso acontece de forma variada, com mais ou menos originalidade e criatividade, e certamente com um ritmo mais intenso de trocas de ideias entre os pesquisadores, de assimilações e de transformações.

Mas há, sem dúvida, um impacto do trabalho coletivo. 
Sim, e há eventualmente um reverso da medalha, que seria a eliminação de ideias menos atraentes pela maioria, direções de pesquisas que são, ao menos provisoriamente, esquecidas. Num regime mais individual e lento, essas ideias tinham mais tempo para maturação. O risco aqui é que certo conformismo leve a privilegiar exageradamente uma das direções possíveis. Isso pode ser constatado na minha antiga linha de estudo, a física das partículas, na procura de teorias unificadas onde muitos jovens optam pela mesma direção de pesquisa – aliás, favorecida pelos critérios sociais que orientam as carreiras de pesquisador. É sem dúvida um assunto complexo que merece estudo adequado.
Cern
Embora na ciência contemporânea o trabalho coletivo se destaque, com uma enorme mobilização de pesquisadores, instituições, equipamentos e recursos, a produção de ideias continua a ser individual e permeada por maior ou menor originalidade e criatividade. (foto: Cern)

Nesse contexto, a filosofia da ciência tem dedicado a atenção que deveria ao processo criativo na ciência?De maneira predominante, desde a segunda metade do século 20, afilosofia da ciência se desinteressou do processo criativo do pensamento científico e o rumo atual da pesquisa socializada não vai ajudar muito a retomar esse tema. Mas acredito que os criadores com ideias originais, mais sensíveis a respeito da natureza do pensamento científico e da forma como ele é capaz de reinventar o mundo e incorporá-lo à cultura dos homens, vão continuar a contribuir com suas reflexões nessa área, como fizeram Poincaré e Einstein em seu tempo. E espero que os filósofos da ciência se abram mais a essa dimensão, levando em conta a realidade da ciência tal como ela é e se apresenta.

Além de físico e filósofo, o senhor já atuou como divulgador daciência. Qual o papel da divulgação e da educação científicas na nossa sociedade?
A educação e a comunicação científicas são fundamentais para que possamos problematizar os avanços atuais. É preciso promover essa reflexão lúcida e crítica sobre o conhecimento
Como disse, mais do que nunca a ciência impacta diretamente a cultura, a tecnologia e a sociedade, e isso não pode ser ignorado. A educação e a comunicação científicas são fundamentais para que possamos problematizar os avanços atuais. Essa é uma responsabilidade de todos nós. Os cientistas, filósofos, historiadores e sociólogos da ciência precisam promover essa reflexão lúcida e crítica sobre o conhecimento. O conhecimento científico está centrado na racionalidade, visa à objetividade e, por isso, tem vocação à universalidade, pode ser entendido por qualquer um, em princípio. As gerações que estão por vir dependem disso e a miséria e outros fatores que impedem essa disseminação são crimes contra a humanidade.
Uma questão importante é que a divulgação científica nem sempre é bem feita. Se o objetivo é apenas maravilhar o público, isso não necessariamente aproxima a ciência de suas vidas. É preciso que ela seja uma divulgação crítica, que se indague, que estimule a curiosidade e que ensine os porquês das coisas, desfazendo a imagem dogmática da ciência. Outro aspecto que precisa ser problematizado e abordado é que a ciência e a tecnologia no mundo atual estão integradas num sistema econômico e social específico, o que tem suas consequências.

De fato alguns dos mercados mais lucrativos do mundo hoje envolvem diretamente produtos tecnológicos... Sem dúvida. Primeiro temos que considerar que o acesso à tecnologia ainda é regido por fatores econômicos e a tecnologia não é para todos. Além disso, vamos pensar nas regras que orientam esse mercado, nas motivações que norteiam o desenvolvimento de novos produtos: será que elas se baseiam no esforço pelo avanço da ciência ou no lucro, na concorrência selvagem, responsável por muitos de nossos problemas atuais? O conhecimento sobre a natureza nos dá o poder de transformá-la, mas como orientar esse poder para o bem dahumanidade, e não para o lucro de uma minoria? É, sem dúvida, uma questão atual, de grande importância social e ética.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O raciocínio matemático e o saber dos índios do Brasil

Resenha


Mapping Time, Space and the Body: Indigenous Knowledge and Mathematical Thinking in Brazil. - 
Ferreira, Mariana K. Leal (2015) 


Series: New Directions in Mathematics and Science Education, Vol. 29. Rotterdam, The Netherlands: SENSE Publishers.

Apresentação : Professor Ubiratan D'Ambrosio
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O livro de Mariana K. Leal Ferreira Mapeamento do tempo, do espaço e do corpo: o raciocínio matemático e o saber dos índios do Brasil é o perfeito antídoto para a concepção de matemática como exercício desencarnado de pensamento abstrato que, apesar de útil e prático, carece de âncoras culturais. Em seis ensaios inspirados na experiência de trabalhar como antropóloga e professora entre os povos indígenas no Brasil, ela mostra ao leitor que formas altamente criativas de raciocínio matemático permeiam a vida das pessoas, a maneira como se relacionam entre si e com o meio ambiente: que os sistemas de troca, com regras moldadas pelas relações sociais, que, embora conflitem com os cálculos habituais do capitalismo de mercado, também se podem combinar a esses cálculos para produzir novos resultados; que a retomada de terras ancestrais depende do mapeamento de uma geografia definida pelo conhecimento xamanístico da ecologia que interliga seres humanos, plantas e animais; que os números, mais do que meros sistemas de contagem, como costumam nos ensinar, podem ainda servir de ponte para os diversos atributos das coisas contadas: vivas ou mortas, humanas ou animais, femininas, masculinas ou neutras.
 
Cada ensaio revela profundo respeito pela natureza criativa do raciocínio matemático indígena: ao tentar compreender esse raciocínio, abrimos uma janela para a cosmologia, para a ecologia e para a sociologia das pessoas que o praticam. Acima de tudo, cada ensaio lança o desafio de abraçar a luta pelos direitos dos povos indígenas no Brasil e alhures, como representado na Declaração de 2007 das Nações Unidas. 
 
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por
James Wiley 
School of Medicine, University of California, San Francisco
(Traducao de Beth Leal Ferreira) 
  
 
Resenha original em inglês
 
Mariana K. Leal Ferreira's book, Mapping Time, Space and the Body: Indigenous Knowledge and Mathematical Thinking in Brazil, is a wonderful antidote to the idea of math at its root is a disembodied exercise in abstract thinking, which though it may be useful and practical, is unmoored from cultural anchors. In six essays drawn from her experience as a teacher and anthropologist among indigenous peoples of Brazil, she shows the reader how highly creative forms of mathematical thinking are universally present among humans and embedded in their relations with each other and with their living environments:  how systems of exchange, with rules shaped by social relations, conflict with the usual calculations of market capitalism, but may also be combined with those calculations to yield new results; how re-possession of ancestral lands depends on mapping a geography defined by shamanic knowledge of an interconnected ecology of humans, plants and animals; how numbers can be more than merely counting systems, as we normally learn them, but link to multiple attributes of the things being counted:  alive or not, human or animal, feminine or masculine or neutral.
 
Each of her essays is infused with a deep respect for the creative nature of indigenous mathematical reasoning: how, in seeking to understand this reasoning, we open a window into the cosmology, ecology and sociology of the people who practice it. Above all, each essay contains a challenge to embrace the struggle for the rights
of indigenous people in Brazil and elsewhere, as represented in the United Nations Declaration of 2007. 

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Michael Ruse - Are Humans Necessary?


Michael Ruse - Are Humans Necessary?
Or, Why You Feel the Way You Do

https://www.youtube.com/watch?v=hacbohWccdk

Almost all discussions of human nature put us at the top. The Greeks – Plato and Aristotle – did this. The Jews did this. And, for all that they saw us as tainted by original sin, so did the Christians. After all, God was prepared to die on the Cross for our salvation, and he certainly did not do this for warthogs. Then came evolution, with a wholly naturalistic account of human origins. Thanks to Charles Darwin, we now know that Homo sapiens is the end result of a long, slow process of natural selection, brought on by the struggle for existence.


But the central place of humans has continued. Darwin and his contemporaries were convinced that we humans have come out on top, and that view persists to this day. It is true that some, like the late Stephen Jay Gould, have challenged this view, but critics are few and far between, and even Gould was not as strongly against the idea as some of his writings imply.


Can we really be the top dogs, given the Darwinian processes of change – a relativistic natural selection working on random changes, mutations? I review the various proposals for solving this puzzle, and, finding them all wanting, I offer a solution of my own.


NB: My title is a riff on one of the funniest books in the English language, Is Sex Necessary? Or Why You Feel the Way You Do by James Thurber and E. B. White. Even though the connection may be tenuous, the cartoons make it all worthwhile.


MICHAEL RUSE is the Lucyle T. Werkmeister Professor of Philosophy and Director of the Program in the History and Philosophy of Science at Florida State University. He is the author or editor of many books, including The Cambridge Companion to Darwin and Evolution (Cambridge, 2013) and The Gaia Hypothesis: Science on a Pagan Planet (Chicago, 2013). His next book will be Atheism: Everything One Needs to Know (Oxford, 2014). At moment he is co-writing a book with Robert J. Richards, Debating Darwin: Mechanist or Romantic? Usually in disagreements such as these there is something to be said for both sides; but not in this case.

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Michael Ruse Gaia hypothesis, global warming, religion, science

https://www.youtube.com/watch?v=rLyXMaKvG-M

Dr. Michael Ruse is an author, Florida State University professor, and philosopher of science who specializes in the philosophy of biology. Ruse spoke about the Gaia hypothesis.


Internationally recognized for his work on Darwin, distinguishing science from non-science and in particular science from pseudoscience, the relationship between science and religion, and the creation-evolution debate, Ruse has drawn attention for his views as a nonbeliever who believes science and religion can actually reconcile.
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https://www.youtube.com/watch?v=yKD4IJRWEig


Michael Ruse on Philosophy of Biology, Philosophy of Biology versus Evolutionary Biology, Functionality, his book Taking Darwin Seriously, Darwin and Morality, Darwin in Light of the Extended Synthesis, Creationism and Intelligent Design.


This interview was conducted at the 2013 International Summer School on Evolution which was organized by the Applied Evolutionary Epistemology Lab in collaboration with Ciência Viva, and held at Ciência Viva's Pavilion of Knowledge in Lisbon, Portugal.

More info can be found at:
http://evolutionschool.fc.ul.pt/summer
http://appeel.fc.ul.pt

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SEMINÁRIO ESPECIAL
Prof. Dr. MICHAEL RUSE (Florida State University, USA)
Data: 19 de junho de 2012 (sexta-feira)
Horário: 9:30 h
Local: Anfiteatro do Departamento de Genética – Prédio 43312 – Campus do Vale/UFRGS
O Prof. Dr. Michael Ruse é internacionalmente conhecido na área de filosofia da ciência.
Organização: PPG em Genética e Biologia Molecular – UFRGS
http://www.ufrgs.br/filosofia/blog/2012/06/13/human-evolution-where-are-we-now/

Realistas vs Empiristas - Pragmatismo e transcendência

Pragmatismo e transcendência

Tese da Fafich propõe terceira via para solucionar impasse entre realistas e empiristas na filosofia da ciência

Itamar Rigueira Jr.


Fonte: https://www.ufmg.br/boletim/bol1881/6.shtml



Até que ponto podemos acreditar no que diz a ciência? Ainda que os modelos que explicam fenômenos físicos, químicos e biológicos pareçam bons, estamos autorizados a tomar tais explicações como verdade? No universo da filosofia da ciência, há dois posicionamentos principais: os realistas defendem que sim, se a explicação é boa, assuma-se como verdadeira. Os antirrealistas, ou empiristas, são mais cautelosos e lembram que muitas teorias foram desmentidas com o tempo.

Segundo Fábio Tenório de Carvalho, um dos vencedores do Prêmio UFMG de Tese 2014, se esse impasse fundamental persiste, é porque a questão não está posta da forma correta. Em seu trabalho, defendido no ano passado na UFMG e na Université Paris I Panthéon Sorbonne, ele propõe a substituição dos pressupostos da discussão.

Para elaborar sua proposta, Fábio fez uma leitura renovada de Immanuel Kant (1724–1804), à luz do estado da arte da ciência. Para Kant, a ciência se compõe de regras que não descrevem a coisa dada, mas que constroem a realidade. “O discurso cria o fenômeno. Isso parece esquisito no domínio do cotidiano, mas faz sentido quanto às coisas que não são visíveis a olho nu. Fóton e elétrons existem ou não?” Carvalho atualiza o filósofo alemão, por exemplo, quando causa e efeito são tratadas não como categorias universais e permanentes, mas como mutáveis ao longo da história, devido à interação do ser humano com o entorno, ou seja, à reflexão. O discurso da ciência, antes de nos dizer o que é o real em si mesmo, exprime, sobretudo, nosso modo de interagir com ele”, diz Fábio de Carvalho.

A proposta da tese adota a abordagem que o francês Michel Bitbol, da Université Paris 1 – coorientador da tese, que teve orientação principal da professora Patricia Kauark, da Fafich –, batizou de pragmatismo transcendental. Diferentemente de Kant, que afirmou que a mente constrói o mundo, o filósofo francês se baseia na ideia de que o mundo se constrói pelas ações humanas.

“O significado do que nós dizemos deve ser buscado no modo como usamos a linguagem em nossas interações sociais. Isso vale também para o discurso científico. Esse é o lado pragmático da abordagem”, explica Fábio de Carvalho. Para Bitbol, Kant identificou um mecanismo de construção transcendental do mundo pertinente para a física do século 18, mas seu método de análise filosófica continua atual e ainda mais abrangente quando aplicado à física contemporânea. Esse é o lado transcendental da teoria de Michel Bitbol.

“Depois de examinar os principais argumentos de realistas e antirrealistas, concluí que estes últimos têm razão quando afirmam que o modelo da Inferência à Melhor Explicação – em que se escolhe a explicação mais plausível – é inadequado para descrever como raciocinamos e também não consegue mostrar a ligação entre as qualidades de uma explicação e a verdade. Os realistas, por outro lado, acertam quando consideram que existe relação entre as qualidades de uma explicação e a verdade, mas não foram bem-sucedidos em mostrar qual é essa relação”, afirma Fábio de Carvalho.

Equivalência em Kant

A abordagem pragmático-transcendental é pragmática na medida em que se concebe a atividade científica como um jogo, um tipo de interação social que envolve ações e consequências, segundo conceitos de filósofos como Charles Peirce e Ludwig Wittgenstein. Algumas regras desse jogo foram sendo elaboradas, modificadas ou abandonadas ao longo da história. “O lado transcendental vem do modo como se interpretam as regras”, afirma o filósofo.

Segundo o pesquisador, podem-se considerar dois tipos de regras para a atividade científica: as definidoras, que estipulam o que é possível e o que não é possível fazer, e as estratégicas, que indicam as melhores decisões a tomar, dadas as situações. “O que fiz foi propor que esses dois tipos de regras equivalem ao que Kant, na Crítica da razão pura, chamou de princípios constitutivos e princípios regulativos do conhecimento humano.”

A respeito de suas conclusões, Fábio de Carvalho explica que, quando se identificam os critérios de escolha da melhor explicação com as regras estratégicas – os princípios regulativos – do jogo científico, a abordagem transcendental mostra que esses critérios não exprimem apenas preferências pessoais arbitrárias dos cientistas.

“O método transcendental de Kant nos ajuda a entender que os critérios da escolha da melhor explicação são imprescindíveis para indicar os caminhos que vale a pena trilhar para continuar perseguindo o principal objetivo epistemológico do jogo, que é compreender a realidade”, diz Fábio de Carvalho. “Desse modo, o método pragmático-transcendental possibilita ligar as duas pontas do problema: os critérios de escolha da melhor explicação e a relação desses critérios com a verdade.”

Tese: Inferir explicações e explicar inferências: uma abordagem pragmático-transcendental da Inferência à Melhor Explicação
Autor: Fábio Tenório de Carvalho
Orientadora: Patricia Kauark Leite
Coorientador: Michel Bitbol
Defesa: março de 2013, no Programa de Pós-graduação em Filosofia